O Canto da Andorinha

Autor: Darlan /

O sol custava em acordar, pois ainda se recordava dos belos momentos com a sua companheira lua. O dia ainda dormia numa bela e aconchegante brisa e custava-lhe abrir os olhos. Mas, o tempo chamava todos a dar boas vindas ao outono.

Ali, bem próximo, o João-de-Barro cantava, fazendo-se ouvir por todo o campo. Aquele pássaro era o mais vigoroso do bosque e todas as fêmeas o amavam; menos uma que ele jamais conseguira conquistar - a Andorinha.

A linda donzela era rejeitada por todos, por ser diferente. Sendo de outra espécie, era sempre excluída do grupo. Andava sempre sozinha, mas cantava muito bem. João, então, sentiu que poderia compreender seus sentimentos e desejou cortejá-la.

A Andorinha tinha uma linda casa, entre os telhados de uma mansão, de onde se via toda a algazarra dos outros pássaros do bosque. O frio chegava e todos os migrantes davam seu adeus. Menos ela.

João, esperto como sempre, notou o descontentamento da jovem solitária e aproximou-se dela, oferecendo-lhe o ombro e mostrando-se ser um grande amigo. Ele, com a experiência de tantos amores, viu a oportunidade que esperava.

Ela falou-lhe de seus pesares; vivera um amor com um belo rapagão... era o amor que tanto sonhara, mas que quando iriam conhecer o calor da primavera no outro lado do mundo, ele a abandonara; sem sequer um adeus.

Ele ouvia tudo com atenção, alisando a macia pluma de sua cabeça. Disse-lhe que seria seu amigo e num abraço, abafou as lágrimas que teimavam em cair, comprometendo-se a realizar qualquer desejo para vê-la feliz novamente.

Ela, tomada pela euforia, fez-lhe, então, um pedido: - Venha comigo cruzar o mundo! Muitos lugares lindos iremos vivenciar, onde a chegada do inverno não roubará a beleza das flores.

João fora pego de surpresa! Viu que nas asas da Andorinha, espaço não teria. A liberdade era a canção que embalava a sua vida. Olhou para trás e viu os amigos que viviam com ele na longa jornada de boemia e lascívia.

O que fazer? O amor é um barco tão inseguro que o coração sofre, temendo não chegar à outra margem. A vida conquistada se torna tão rotineira e agradável que não há desejo de mudanças; de viver uma nova aventura, com o intuito de esquecer-se do passado. E, largar uma vida que é o espelho de todos os seus desejos???...

João a abraçou. Disse-lhe que sempre apreciara o seu cantar e o seu voar; que nenhum dos amores que tivera poderia se igualar à sua beleza; que já estava vivendo um sonho do lado dela, desejando não mais acordar; e, finalmente, marcou um encontro no moinho, ao meio dia.

Naquela tarde, a beleza da relva dourada e a alegria dos animais campestres não se equiparavam à felicidade da Andorinha que contemplava o mundo, vivenciando no coração a oportunidade de um novo amor. Entregava-se por completo àquele momento tão sublime.

Ao longe, ouvia-se os sinos da igreja. O contentamento deu lugar a uma tensão insuportável, pois o seu amor atrasara-se novamente... Mas, ela pensava: “Ele virá, eu sei. O que são alguns minutos?”. O tempo a olhou com desprezo e, grosseiramente, trocou a luz do dia com o frio da noite.

E a Andorinha, confiante, certa de que não seria abandonada novamente, esperou... e esperou...

O inverno pintava a paisagem de branco. As festas aqueciam as casas durante a noite e, de tanto beber, João retirou-se, dando boa noite aos amigos. Naquela noite, desnorteado, ele preferiu descansar em uma velha construção de madeira.

Sua mente se perdeu no passado, recordando o belo sorriso de uma jovem. Ria sozinho. Lembrava-se de ter abandonado alguém e de que seus amigos lhe agradecido por ter sumido com uma “esquisita”. Sentando em um bloco de gelo, lembrou-se que ela se chamava “Andorinha”.

Tentava recordar-se de sua face e percebeu que o rosto dela se assemelhava ao rosto aprisionado no gelo. De susto, deu um salto, aterrorizado com a visão; sentiu seu coração quebrar...

Ela o esperou, congelada na esperança...

Ele morreu, despedaçado na culpa...

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Esta fábula criei ao observar o comportamento de um amigo. Que tantos jovens atualmente apenas se aventuram no “amor” por diversão. Sem se preocupar com o sentimento do próximo, apenas consigo mesmo.

Aí eu pensei: “E se um dia ele encontrar a mulher perfeita e por infelicidade do destino deixar passar a verdadeira oportunidade?”.

Sim, é trágico. Oportunidades perdemos todos os dias e encaramos o espelho dizendo “viverei todos os dias como se fosse o ultimo”. E não notamos os pequenos detalhes que Deus nos coloca no caminho.

10 comentários:

Climão Tahiti disse...

Triste história.

Nunca mais se encontraram, mas acredito que a andorinha foi tola por ter esperado demais. =/

Anônimo disse...

ai que lindo, putz da ate vontade de chorar serio!!
triste o final cara...
gostei do blog!
até+...

Stylus disse...

Adoro finais tristes, fogem do clichê... Mas não deixa sde ser triste =/

Rafaella Weiss disse...

finais tristes são legais.
bom pra mudar o clichê de todos os contos de fadas.
:)

obrigada por comentar no meu blog, passe mais vezes por lá ;D

Anônimo disse...

Bonita e triste historia

Reverendo FerAuZ disse...

Legal, a quebra que eu vejo do cliche é que no geral o joão de barro (ave que constroi seu ninho carregando o barro) é associado ao responsavel e a andorinha (ave migratoria)é o irresponsabilidade.

A andorinha deixou de voar ao mundo por ter uma disilusão amorosa, encontrou alguem que fez se de bom senhor para ganhar sua confiança e acreditou que tinha alguem para livra la da solidão. Mas o kra era só mais alguem se aproveitando dela e de seu estado de carência emocional.

Vcs acham esse final triste uma kebra do cliche?!?! Somente na arte, por que todo amor na vida real acaba com alguem se sacrificando enquanto o outro nem se lembra mais, mas algumas vezes a culpa pesa na consciencia depois de um tempo. Cliques da vida.
***
Adorei o comentario que vc fez no meu blog, e te deixei uma resposta la abaixo do seu comentario.

Abel disse...

Gostei muito da história. Espero que seu amigo tenha a oportunidade de ler o que você escreveu aqui e assim, quem sabe, ele mude de postura.
O amor verdadeiro deve ir além do mero contato físico. O amor é bem maior que o simples ato sexual.

Em relação ao seu comentário... obrigado, você captou muito bem os sentimentos de Mohamed. Mohamed não sou eu é um personagem. Eu escrevo na primeira pessoa para demostrar com mais vivacidade esse mundo confuso e desesperado do personagem. Mas é bem verdade que muita coisa que coloco na mente e na boca de Mohamed é algo que há em mim, que tenho desejo de dizer e não digo.
A história do Crime de Mohamed e Rumi eu me inspirei num fato real e que aos poucos se tornará claro ao longo da história. Ufa!! É isso!

Espero que continue lendo!

Anônimo disse...

Adorei o texto... mas fiquei com muita pena da pobre Andorinha...
Realmente isso acontece muito na vida real, o "falso amor"...
Bjocas

Memórias de Donha Baratinha: a baratinada, cascuda e sobrevivente disse...

Eu concordo com você, realmente fazemos parte de u ageação muito imediatista e que não sabe lidar co os seus sentimentos e nem com os dos outros. Sem contar que inventamos vários tipos de fuga pra nos escondermos da maturidade e as responsabilidades que assumir pápéis nos traz. Muito bom ese post como os outros que já li aqui. Obrigada tb pelo comentário no meu blog. Bjuxxx!!!

Anônimo disse...

Maestralmente a arte imita a vida... Eu conheço uma andorinha que se apaixonou virtualmente por um pavão. O que a atraía não eram suas plumas cobiçadas, e sim, o que ela inadvertidamente sonhou haver em seu coração. Mas um pavão é sempre um pavão...
Só que, estranho amigo,essa história teve happy end. O pavão continua pavoneiando por aí, enquanto a andorinha constrói seu ninho sozinha, pois, naquela árvore só pousa quem é digno de fazê-lo.
Parabéns pela sensibilidade e pela intimidade com as palavras!!